16/11/2012

Falando bem, que mal tem? *regra dos porquês*

 Por Gi Olmedo

Porque junto, por que separado, porque sem acento ou com acento? Essa regrinha simples ainda confunde muita gente, sendo um assunto muito discutido e repleto de dúvidas intermináveis. Mas acredite, é fácil diferenciá-los! 
Para simplificar, separei os quatro tipos de "por que".

Por que - pergunta
Porque - resposta
Por quê - pergunta em final de frase
Porquê - motivo

Ainda difícil de fixar? Vamos a alguns exemplos: 

  • Por que (separado, em início ou meio de frase) - utiliza-se quando se faz uma pergunta. Pode ser substituido por “por qual razão” ou “por qual motivo”

Por que você pergunta isto?
Não sei por que não quero ir...

Outra dica é quando podemos substituí-lo por "pelo qual". Quando for a junção da preposição por + pronome relativo que, possuirá o significado de “pelo qual” e poderá ter as flexões: pela qual, pelos quais, pelas quais. 
Sei bem por que motivo permaneci neste lugar.


  • Porque (junto, em início ou meio de período) - quando se explica alguma coisa, podendo ser substituído por "pois", "uma vez que" ou "para que"

Não fui ao cinema porque tenho que estudar para a prova.
Não vá fazer intrigas porque prejudicará você mesmo.


  • Por quê (separado e com acento circunflexo) - utiliza-se numa pergunta, mas o bendito do "por quê" fica no final da frase. Quando vier antes de um ponto, seja final, interrogativo ou exclamação, o por quê deve vir acentuado e continua com o significado de “por qual motivo” ou “por qual razão”.

Você pergunta isto por quê?
Vocês não comeram tudo? Por quê?


  • Porquê (junto, com acento circunflexo) - quando funciona como um substantivo. Significa e pode ser trocado por "o motivo" ou "a razão"

Eu quero saber o porquê das coisas.
Diga-me um porquê para não fazer o que devo. 

O porquinho da história de Clóvis Sanches saberia demonstrar bem o porquê de ser tão curioso e ter tantas perguntas a se fazer... Apesar de infantil, a historinha ajuda a desvendar as dúvidas do porquinho - e as suas!


Os porquês do porquinho - Clóvis Sanches

Era uma vez um jovem porquinho, belo e bom, muito pequenino, cuja vida foi dedicada à procura dos porquês da floresta. Tal porquinho, incansável em sua busca, passava o dia percorrendo matas, cavernas e savanas perguntando aos bichos e aos insetos que encontrava pelo caminho todos os tipos de porquês que lhes viessem à cabeça.

- Por que você tem listras pretas se os cavalos não as têm ? - perguntava gentilmente o porquinho às zebras.

- Pernas compridas por quê, se outros pássaros não as têm? - indagava às siriemas, de forma perspicaz.

- Por que isso? Por que aquilo? 

Era um festival de porquês, sem que ele encontrasse respostas adequadas aos seus questionamentos de porquinho. 

Por exemplo, sempre que se deparava com uma abelha trabalhando arduamente, ele perguntava por quê. E a pergunta era sempre a mesma:
- Saberias, por acaso, por que fazes o mel, oh querida abelhinha?
E a abelha, com seus conhecimentos de abelha, sempre respondia assim ao porquê:
- Fabrico o mel porque tenho que alimentar a colmeia. 


Mas a resposta das abelhas não o satisfazia, porque eram os ursos os maiores beneficiados com aquela atividade.
- Alguma coisa deve estar muito errada, porque eram os ursões que ficavam com quase todo o mel, sem ter produzido um pingo.- pensava o porquinho. 


Então, valente como os porquinhos de sua época, seguia pela floresta à procura de ursões, fortes e poderosos, ansioso por que eles soubessem a resposta. Quando encontrava um, perguntava: 

- Senhor, grande e esperto ursão, poderias me dizer a razão e solucionar o porquê da questão?
E alguns ursos, mais exibidos, até tentavam responder, porque de mel eles entendiam muito, mas sobre trabalho... as respostas eram sempre do senso comum de ursão e não resolviam a questão.
- Elas fabricam o mel porque ele é muito gostoso. - diziam uns.
- Elas o fabricam porque o mel é delicioso. - diziam outros.
Havia aqueles que se limitavam a olhar feio e, ainda, aqueles que até ameaçavam o pobre porquinho e iam embora, sem dizer por quê. Apesar disso, o porquinho seguia em frente.


Um dia - porque toda história têm um dia especial - o porquinho encontrou um oráculo em seu caminho e resolveu elaborar o seu mais profundo porquê. Afinal, oráculo é para essas coisas. Então, ele perguntou com sua voz fininha, mas de modo firme e sonoro
- Por que existo?
Houve um profundo silêncio na floresta e o porquinho pensou que aquele porquê nunca seria respondido, afinal.
Mas de repente, o oráculo falou, estrondosamente, porque, afinal, era um oráculo.
- Procure o Sr. Leão, rei da floresta, e pergunte a ele por que você existe. Só ele lhe dará uma resposta adequada. 


Então, feliz, animado e saltitante, lá se foi o porquinho à casa do grande e sábio rei da floresta, carregando o seu também grande e sábio porquê. Ao chegar à casa do leão, o porquinho bateu à porta e, quando foi atendido por sua realeza, tratou logo de lascar o seu porquê mais precioso:
- Sr. Leão, rei dos reis, sábio dos sábios, poderia Vossa Alteza me dizer por que existo?
E o leão, porque era leão, respondeu mais que depressa.
Nhac.
Porque é o da história!
Fim


Fonte: http://bit.ly/SzFfFnhttp://bit.ly/c0Ma7
Imagem: http://bit.ly/TyZAvyhttp://bit.ly/SvFvoy

Gi Olmedo é jornalista, atualmente responsável pela assessoria de imprensa e comunicação interna do grupo teatral A Ordem do Caos e escreve para o AODC Notícias quinzenalmente, sempre às sextas-feiras, esclarecendo dúvidas sobre língua portuguesa

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