20/11/2012

Dia da Consciência Negra: a falta de identidade é o abraço da dominação

Por Tamires Santana

Filme Amistad, baseado em factos verídicos que ocorreram a bordo do navio La Amistad


Uma vez, ouvi dizer que o problema do Brasil é a miscigenação que se permitiu desde a chegada dos europeus nas terras dos índios. Acho isso um absurdo. O problema do Brasil, se é que se pode resumir em apenas um, se deve ao aniquilamento das raízes que fortaleceriam a nossa identidade.


Shakespeare escreveu: “ser ou não ser, eis a questão”. Se ele está em dúvida se vai ser ou não, é sinal de que, no mínimo sabe quem é, enquanto eu ainda me pergunto: quem sou eu? O que vou explicar ao meu filho e ao meu neto sobre a história dos meus antepassados? Direi que sou negro (a), que tenho pé na senzala e, consequentemente, derivei da África. Bem, mas se o berço da humanidade deriva da África, todos têm ancestrais lá.

Escritor americano Alex Haley, também da biografia de Malcom X

Quantos de nós não temos a menor ideia de onde viemos e quem somos? Imagine quantas histórias interessantes desencontradas e já enterradas? Este fato contribui para uma perda de identidade e um agravante quando praticamente tudo o que é derivado da cultura negra não é reconhecido, salvo engano no momento que se ganha dinheiro. O assunto se prolonga em discussões políticas, movimentos artísticos, teses acadêmicas etc. Por hoje, vamos nos limitar a procurar pensar da seguinte forma: é preciso ocupar todos os espaços, sobretudo os de liderança, além dos que já são ocupados hoje, sem perder um posicionamento e uma postura crítica na defesa da identidade enquanto negro. Nada de tocar fogo no mundo, apenas analisar certas desigualdades que andam acontecendo por aí há séculos. E depois, mesmo que em determinados momentos uma ou mais pessoas não compreendam sua postura, o importante é que você tenha consciência do que está fazendo.

Filme "Da Cor Púrpura", que trata de questões de discriminação racial e sexual

Como neste dia já temos uma infinidade de shows, peças teatrais, filmes, poemas e oficinas que falem sobre a África, escravidão, formação do Brasil e sobre culturas marginalizadas, a seguir, confira algumas dicas que vão durar muito mais que meros 90 minutos. Certa vez, ouvi uma frase, sabe-se lá de quem, que, desde então, guardo comigo: “Uma raiz forte amanhã não dá frutos podres.”

Abolicionista e escritora estadunidense Harriet Beecher Stowe

LIVROS
Cabana do Pai Tomás
Autora: Harriet Beecher Stowe

Negras Raízes
Autor: Alex Haley
Editora: Círculo do Livro

Coleção Os Negros Caros Amigos
Editora: Casa Amarela

O povo brasileiro - A formação e o sentido do Brasil
Autor: Darcy Ribeiro
Editora: Companhia das Letras

Casa Grande e Senzala

Autor: Gilberto Freyre

 Darcy Ribeiro, antropólogo, político brasileiro e escritor

FILMES
Amistad
Direção: Steven Spielberg

Da Cor Púrpura
Direção: Steven Spielberg

Hotel Rwanda
Direção: Terry George

Malcolm X
Direção: Spike Lee

Atlântico Negro - A rota dos orixás
Direção: Renato Barbieri

Zumbi Somos Nós
Direção: Coletivo "Frente Três de Fevereiro

MÚSICAS
Canto das Três Raças
Interpretação: Clara Nunes

Negros maravilhosos – Mutuo mundo Kitoko                                                                         
Composição: Talismã (Camisa Verde e Branco)

Kizomba, a festa da raça
Autoria: G.R.E.S Unidos de Vila Isabel

Carta à mãe África
Letra: Gog

Afro brasileiro
Letra: Thaíde

Tamires Santana é jornalista e designer gráfico, além de militante em prol dos movimentos culturais na cidade de Francisco Morato. Ela escreve para o AODC Noticias quinzenalmente, às terças-feiras. Aprecie textos melancólicos, insensatos, apaixonados e quase nunca jornalísticos em: http://ofilhoemeu.blogspot.com.br/

Um comentário:

  1. Mas o que de fato é identidade?É uma construção coletiva? individualizada?Temos sim que ter mais do que identidade,temos que ter memória.Lembrar dos erros p/ ñ mais comete-los e isso inclui o histórico de povos africanos e,principalmente,indígenas que deram,de certa forma,junto com europeus origem ao que somos hoje. Mas, será que o que somos realmente tem a ver com o que eramos ou com o que queremos um dia vir a ser?Não existir mais o orgulho de ser negro,branco,amarelo,vermelho para simplesmente ter orgulho de sermos pessoas, indivíduos pregando o respeito mutuo,a igualdade dentre essa miscigenação tão bela?E isso não é deixar de dar valor ao passado,mas sim,de construir um futuro digno a partir do que aprendemos com quem lutou um dia por uma causa no passado.

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