Por Telma Souza
O grupo mais importante do início dos anos cinquenta no Brasil foi o Teatro Brasileiro de Comédia, fundado por Franco Zampari , em 11 de outubro
de 1948. Zampari, rico industrial paulista, foi um homem apaixonado pela arte
que criou com seus próprios meios o teatro que mudaria consideravelmente a cena
brasileira.
Com efeito, até então, o teatro estava dividido em dois grupos de
importância e valores desiguais. O primeiro desses grupos era constituído por
elencos profissionais cujo interesse principal era o sucesso comercial de suas
peças que, na maioria dos casos, tinham textos de qualidade duvidosa que serviam
como suporte ao brilho dos atores (atores que declamavam em prosódia
portuguesa, e isto até os anos trinta), sendo suas interpretações pontuadas por
um humor fácil e até vulgar. O trabalho do diretor se reduzia a verificar se o elenco
conhecia bem o seu texto, fixar a
movimentação cênica e, sobretudo, a facilitar o trabalho da vedete do grupo.
O segundo grupo era formado por amadores preocupados em melhorar
a qualidade estética do teatro brasileiro retomando conceitos vindos da Europa.
Esses elencos começavam a se preocupar com o nível artístico do repertório, com
o trabalho criativo do diretor, com a cenografia, assim como com uma maneira de
interpretar que não seria mais unicamente voltada para ajudar às performances
de uma vedete, mas sim, onde a totalidade do elenco teria igual importância, não
sendo nenhum ator relegado ao ingrato papel de pedestal. Em resumo, preocupações
totalmente alheias às dos profissionais e que traziam uma renovação salutar à
cena brasileira.
Citando unicamente o mais famoso exemplo, a representação pelos
COMEDIANTES de VESTIDO DE NOIVA (a peça foi representada em 28 de dezembro de
1943 no Teatro Municipal do Rio de Janeiro e é, sem duvida, um marco na
dramaturgia nacional) inovou em pelo menos três pontos: a narração dramática
fragmentada em vários níveis, o recurso mais frequente das possibilidades da
iluminação e a utilização da cenografia como linguagem. Mas, por maiores que
tenham sido as qualidades dos grupos amadores, eles se viam confrontados com os
problemas intrínsecos ao amadorismo: falta de dinheiro, impossibilidade de se
manter elencos fixos, falta de disponibilidade de seus integrantes, etc. problemas
que os impediam de realizar um trabalho regular que resultava na diluição
desses grupos.
Podemos, então, considerar que o advento do Teatro Brasileiro de
Comédia foi o do profissionalismo inspirado nas práticas artísticas do teatro
amador dos anos quarenta. Com efeito ,a primeira intenção de Franco Zampari foi
a de oferecer uma sala confortável para estes elencos. Graças a esses
espetáculos ,o TBC teve rapidamente a merecida fama de ser o teatro onde só se
produziam bons espetáculos .O próprio sucesso do teatro levou Zampari a rever
sua opção pelo amadorismo. A necessidade de se manter sempre um espetáculo em
cartaz, de se investir maciçamente para se obter bons recursos técnicos, levou
o TBC a se profissionalizar em 1949. O elenco que se formou era, em parte
,constituído somente por antigos amadores sob a direção de diretores de
trajetória profissional já comprovada. Como Adolfo Celi, Ruggero Jacobbi e
Ziembinski. O TBC criou um estilo: bons textos, quase sempre estrangeiro - o
que a seguir iria lhes levar a ser censurados por seu estrangeirismo - representados
num estilo intimista, por atores de talento, e com muita honestidade. Essa
honestidade foi assim definida por Adolfo Celi:
"QUANTO AO ESPETÁCULO,NÃO É NECESSÁRIO DIZER QUE PRECISA SER HOMOGÊNEO ISTO É,ARTÍSTICO E HONESTO AO MESMO TEMPO.POR ISSO MESMO,RESPEITO
PROFUNDAMENTE O TEXTO DE UMA PEÇA E JAMAIS ME INTERESSOU SABER QUE É QUE O
AUTOR PRETENDEU DIZER,COM ESTA OU AQUELA FRASE OU EXPRESSÃO.O QUE REALMENTE
INTERESSA É O QUE ELE ESCREVEU E NÃO O QUE ELE PRETENDE INSINUAR"
(Citado por
Roux,Richard.Le Théâtre Arena-São Paulo 1953-1977,du théâtre en
rond ou théâtre populaire.Vol.1.Aix-en-Provence:Université de
Province,1991,p.64-5)
Fonte:
Livro-As Imagens de um Teatro Popular
Autor-Julián Boal
Editora Hucitec
Telma Souza,Estudante de Publicidade e Propaganda e faz parte da oficina de Teatro A Ordem do Caos.
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