Por Ingrid Pierazzo
No ônibus, uma ida seria como qualquer outra. O “boa tarde” do motorista e o olho a olho entre cobrador e passageiro poupa mais descrições, por tamanha candura.
Os olhos se encontram com aqueles desejados e indiferentes a
quem olha toda vez.
Os pensamentos devaneados tentavam encontrar um lugar para
ficar. Sinatra entra e conforta um pouco o desalento que a mente se encontra de
não conseguir se prender a um pensamento.
Um solavanco. Alguns se desequilibram, crianças caem no colo
de desconhecidos, bolsas trocam de donos, celulares são quase engolidos.
Morreu!
O ônibus morreu na ladeira. “Acende o carro”... Para! “Acende
o carro”... Para! “Acende o carro”... Morre de novo! “Não vai subir”, “Vamos
ter que ir a pé”, “Tô com criança de colo, seu ‘motô! ’”.
Caem fones de ouvido, livros são fechados e não se ouvem
notificações. Devaneios antes inconscientes dão lugar ao que é consciente.
Tentando achar uma saída, os devaneios que se tornaram
conscientes sofrem agora, para achar uma solução racional para a situação,
tanto quanto antes, quando o único lamento, era não conseguir prender um
pensamento.
A única coisa que resta a todos é esperar que o carro andasse
ou quebrasse de vez. Emissão de pensamentos positivos.
Pegou! O ónibus da outro solavanco e sai com a força que
nenhum outro ônibus teve numa ladeira daquelas. O caminho era pequeno até o fim
da rota, mas neste meio tempo entre morre e vive deu para falar mal,
esbravejar, resmungar, xingar, pensar, não pensar, avisar pelo telefone,
devanear, não conseguir achar saída.
Todos nas mãos do que
estaria por vir!
Crônica e imagem de Ingrid Pierazzo
Ingrid
Pierazzo, 20 anos, e estudante de design, é apaixonada pelas artes e
por todas as formas que a represente e escreve quinzenalmente, toda
segunda-feira, para o blog AODC Noticias.
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