Por Tamires Santana
Terremotos, calor excessivo, furacões,
legiões de aranhas que atacam a índia, asteroide
que se aproxima do planeta, ruínas financeiras, políticos corruptos, problemas
sociais, ato de recolher do PCC... e eu aqui, no meu quarto, apenas preocupada com
o meu nariz.
Viva la crisis existencial!
De nada sirvo para este mundo. Desligo
o celular, durmo estressada, pernilongos me fazem companhia. Ao acordar, ligo o
celular, “ninguém me ligou? Não tenho amigos”.
Vida bandida!
O telefone toca, atendo, cai a ligação.
O telefone toca, atendo, linha muda. O telefone toca, atendo, xingo. Do outro
lado da linha “gostaria de falar com Maria...”
Como sou grossa!
Cataclismos não são suficientes, o que
importa é só o meu mau-humor. Dado momento me recordo dos maias... os maias nunca
disseram que o mundo iria acabar, ledo engano, apenas profetizaram o início e
o fim de ciclos, mas nada de explosões planetárias.
Que pena!
Seria muito mais fácil se tudo
explodisse. Em uma única tacada, todos os problemas evaporar-se-iam. Karl Marx
disse: “tudo o que é sólido se desmancha no ar”. Perfeito! Porque o mundo não
acaba deste jeito? Seria uma saída triunfal pra todos nós.
Lamentável!
O mercado do fim do mundo comendo
solto, rendendo milhões e eu aqui, desperdiçando o meu talento. Mas a culpa
não é minha. A culpa é do ego e do pensamento.
Erupção vulcânica mergulhada em conflito - Parte II
Força magística do poder ígneo, portal interminável sobre
a existência.
Nada de impulsos, ódio ou má intenção.
A nada escapa à lei da Ação e Reação.
Por séculos, evocam-se deuses e divindades
Pra ênfase do ego.
Clamam o apocalipse como solução.
Parou a palhaçada!
Vão ter que arcar com as consequências, camarada.
Se adapte à constante transformação.
Olho para o meu umbigo
Reclamo das coisas comigo
Lembro dos maias, de Karl Max.
Índio Guarani Kaiwoá foi morto, estuprado, expulso.
E eu aqui olhando só para o meu nariz.
Dado momento me senti uma meretriz.
Ser índio é tomar chumbo (censurado).
Índio, cabra da peste, bebum...vitimado.
Perdão por colaborar ao sustento dessa vida moderna, confortável.
Que nem mesmo eu saboreio.
Pra quem, até quando?
Não me chateie com questionamento.
Vou ganhar o céu com o meu cabresto.
Sou índia renegada,
O menino de rua que samba na cara da sociedade
Pedindo gorjeta e socorro.
Macaco Simão depilado, escovado e adaptado.
Sou o obscuro fazendo parte do infinito,
Uma erupção vulcânica mergulhada em conflito.
Morrer e acabar,
Sério que você acredita nisto?
Ciclos consolidados, sólido que desmancha.
Nada impede a eternidade de vigorar.
Mas, enquanto o pensamento obscuro viver,
Pra essência jamais vai despertar.
Tamires Santana é jornalista e designer gráfico, além de militante em prol dos movimentos culturais na cidade de Francisco Morato. Ela escreve para o AODC Noticias quinzenalmente, às terças-feiras. Às vezes, às quartas, às quintas... tudo depende dos aparatos tecnológicos que nos dão suporte e por vezes nos abandonam...
Aprecie textos melancólicos, insensatos, apaixonados e quase nunca jornalísticos em: http://ofilhoemeu.blogspot.com.br/
Telefone...telefone... telefone...
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