01/01/2013

Pica-Pau, um índio e mais uma meta para 2013

Por Tamires Santana

Não há nada mais prazeroso do que sentar-se em frente à TV e assistir a um daqueles desenhos clássicos que fizeram parte da nossa infância. Se bem que, no caso de um “adulto”, esta afirmação é questionável, mas enfim, não vamos tratar do mercado erótico aqui - pelo menos por hoje.

Assistindo pela milésima vez o desenho do Pica-Pau, noto que, mesmo uma cena já tendo se repetido diversas vezes, nem assim eu consigo recordar muito bem o final de cada episódio. Além disso, com um pouco mais de idade e bagagem intelectual, a percepção de certas mensagens, desta e de outras animações, muda completamente.

O Salsicha (Scooby Doo), por exemplo, parece um pouco maconheiro demais para alguém natural; o Pateta também não fica atrás, mas o conteúdo de seus desenhos tem excelentes críticas sobre o modo de vida da sociedade moderna e vale a pena rever; O Pernalonga continua sendo meu ídolo, ensinando que observar e esperar a hora certa é sempre a melhor maneira de vencer um obstáculo; O Taz não passa de um ser diferente, indisciplinado e carente, e me parece que os outros personagens só o sacaneiam porque ele é negro (hahahaha, brincadeira!); O Coiote, por sua vez, nossa, o Coiote com certeza foi um aluno repetente de Física e Matemática.

Foi graças a um episódio de um índio contra o Pica Pau que, como uma ficha caindo em um velho orelhão, o pensamento sobre a história que ninguém conta veio à tona. Lembrei até de um livro de 1970, chamado “Me Enterrem na Curva do Rio”, de Dee Brown, que trata muito bem sobre a nação desenvolvimentista que guarda na memória massacres, guerras à sangue frio e centenas de escalpos de apaches.

Todos deveriam saber que a América foi oficialmente “descoberta” pelos europeus e que, a partir daí, a triste história da exterminação começou. Os mais prejudicados pela invasão foram a fauna, a flora e os índios. Dezenas de tribos foram dizimadas em nome do progresso que bem conhecemos hoje.

Fiquei pensando sobre o outro lado da história. Enquanto a indústria cultural vende a cada geração os estereótipos de quem é o mocinho da história, imagino o verdadeiro drama do “bandido”. A psicologia certamente já deve ter batizado com algum nome o ser que tem a mania de torcer pelo bandido. Mas a questão principal mesmo é: quantas outras narrativas são engolidas sob a sombra de uma única ótica, uma única versão, uma única narração? Não quero trucidar o Pica Pau, ele é um pássaro esperto e na versão de 1970 é gentil e quase inocente. Mas quantas vezes acatamos apenas uma versão do episódio? Se esta forma de pensar é vendida desde o desenho animado, que dirá o restante.

Sendo assim, nos menores momentos e acontecimentos, acrescente mais uma meta para 2013:
Senso crítico: modo ativar

Tamires Santana é jornalista e designer gráfico, além de militante em prol dos movimentos culturais na cidade de Francisco Morato. Ela escreve para o AODC Noticias sobre cultura, quinzenalmente, sempre às terças-feiras. Aprecie textos melancólicos, insensatos, apaixonados e quase nunca jornalísticos em: http://ofilhoemeu.blogspot.com.br/

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