15/06/2013

O teatro na cidade de São Paulo e o beneficio que trás à educação brasileira


Por Nilo Abreu

   Eu destino esse post como aluno de teatro participante de alguns projetos culturais do município de São Paulo, e também como cidadão brasileiro após ver algumas notícias sobre o fraco desempenho da educação nacional.
   Começo escrevendo um pouco sobre o PROGRAMA DE FOMENTO MUNICIPAL, criado exatamente a 10 anos na cidade de São Paulo. Por ser um tema bastante complexo decidi dar apenas uma pequena pincelada no foco geral do programa.
   "O Projeto Fomento vai em direção contrária ao mercado cultural na busca da formação crítica de quem faz e quem vê teatro." (trecho retirado do livro Teatro & Vida Pública)
   Hoje o que chamamos de Lei de Fomento nasceu a partir do manifesto Arte Contra Barbárie, de encontros entre os agentes teatrais de grupos e companhias de São Paulo.
   "O objetivo maior da Lei de Fomento é o cidadão, a população. Lutar pelo direito à cultura significa ter em mente que somos agentes, que somos meios para que as pessoas tenham acesso ao bem cultural e artístico. Se o "Fomento" vem proporcionando condições mínimas de trabalho aos coletivos contemplados não podemos nos acomodar dentro dos nossos grupos e companhias, mas ter em vista sempre o público, que afinal é quem contribui com os impostos para que haja saúde, educação e cultura. Quem sabe possamos promover a melhoria da vida em nossa sociedade." (trecho retirado do livro Teatro & Vida Pública)
   E como funciona na prática o tal do Fomento?
   Grupos independentes que não tenham patrocínio para gerar recursos para o desenvolvimento de seu trabalho criativo tem a oportunidade de mandar o seu projeto para a Banca Avaliadora da Lei de Fomento. Essa banca em geral é composta por pessoas do meio artístico teatral com uma boa caminhada sobre as verdadeiras necessidades de um coletivo, e também possuir ou ter experienciado um grupo já consolidado.
   As inscrições são feitas entre os meses de Janeiro e Junho de cada ano, onde o projeto deve mostrar seu objetivo, plano de trabalho, cronograma financeiro (esse com limite), componentes do grupo e histórico do coletivo. A verba que vai abastecer esses grupos serão providas pela Secretária Municipal de Cultura.
   Como tudo, a Lei do Fomento tem seus prós e seus contras, porém vou abordar o lado positivo que trouxe aos grupos teatrais de São Paulo.
   Desde seu surgimento a criação de novos coletivos teatrais cresceu bastante e continua crescendo (o que não significa que todos se firmam), mesmo assim essa nova leva aproximou o teatro daquela população que nunca tinha tido a oportunidade de pisar num "teatro convencional". Muito desse surgimento deriva de projetos paralelos à Lei do Fomento, como é o caso do Programa Teatro Vocacional, que são espaços públicos abertos como C.E.U., Bibliotecas, Teatros onde são realizados oficinas gratuitas para a população local trazendo muitas vezes o primeiro contato com o mundo teatral.
    O objetivo principal do Fomento não é o resultado do trabalho em si, no caso, peça para apresentação como item de avaliação, mas é favorecer a pesquisa, a busca de novas linguagens teatrais de um trabalho contínuo, e principalmente, favorecendo à população o teatro como um instrumento educacional. 
   Grupos que são ou já foram fomentados como Companhia Brava, Companhia Sobrevento, criam novos espaços do fazer teatro, levam seus espetáculos as periferias paulistas, lugares onde uma determinada comunidade não tenha fácil acesso aos teatros convencionais (seja por locomoção ou fator financeiro) e também ruas do centro da cidade paulista. Muitas das peças são textos críticos que fazem o espectador refletir a sua verdadeira postura na sociedade contemporânea. 
    E o melhor de tudo, são peças gratuitas, ou seja, o teatro se torna algo mais próximo da realidade financeira brasileira.
    Bato diversas vezes na tecla educação-teatro pois sempre vi o teatro como algo transcendente do entretenimento, algo sublime que leve o espectador a refletir, questionar, modificar ou mesmo até negar determinada situação. Longe de mim vê o teatro como um dogma, porém que ele exercite o plano da nossa criatividade para tornar a sociedade mais humana e justa.
    Mas como é possível cada um refletir sobre o seu espaço na sociedade, se não existe uma educação adequada que leve aos primeiros passos desse conhecimento?
   
   Veja, entre 144 países avaliados segundo o Fórum Econômico Mundial apresentado no dia 10 de Abril desse ano, o Brasil aparece no 116º lugar em educação, atrás, por exemplo, de Chade, Suazilândia e Azerbaijão. Temos uma grande população, mas o ensino de massa, onde as pessoas são "números" apenas para mostrar em gráficos durante as campanhas eleitorais. Esse tipo de conduta, não forma seres pensantes. 
   Com um governo nem sempre adequado, a educação para atender a demanda virou linha de produção sem qualidade, se perguntamos o que é educação, muitos não saberiam responder. Definição de educação, segundo Dicionário Online de Português: Ação de desenvolver as faculdades psíquicas, intelectuais e morais: a educação da juventude.
   Se hoje, lemos notícias, vemos reportagens que alunos batem, arremessam mesas, cadeiras, rasgam diários de classe dos professores, como podemos querer uma sociedade reflexiva e respeitosa?
   Apesar desse lado negativo, vemos também iniciativas que incentivam esse desenvolvimento do ser pensante, como professores da rede de escolas públicas levarem seus alunos aos teatros para verem peças à preços populares.

   Isso já é um passo para a educação enquanto não temos o respaldo necessário do governo que não se interessa em terminar com o privilégio de poucos, em contra partida existe uma outra parcela da sociedade sedenta por sair dessa linha de produção sem qualidade e se tornar um ser pensante!

   É o "jeitinho brasileiro" do bem! 


OBS: para saber mais sobre a Lei de Fomento, sobre a democratização do teatro consulte o livro 
“Teatro e Vida Pública – O fomento e os coletivos teatrais de São Paulo” de 2012, lançado pela Cooperativa Paulista de Teatro. 

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