29/08/2013

No ritmo da mídia

Por Carol Zanola

Ai a segunda-feira... Tão fria, solitária e cinzenta, que só nos faz lembrar dos embalos de sábado à noite! Como começar um dia assim, tão nostálgico, em que a maioria das pessoas só quer voltar para o tão sonhado lar doce lar? E, por não ter outra escolha, também pego minha mochila e saio cantarolando “rasgue as minhas cartas e não me procure mais, assim será melhor...”
        Começo a notar que não sou a única que se sente assim. Por aí, vejo as pessoas se movimentando cada uma do seu jeito. Olho para um homem cheio de estilo do banco da frente do ônibus onde estou e que mexe a sua cabeça de um jeito diferente e que sem perceber solta um “velha camarada, obrigado pela carta, que saudade preta rara, quero viver!".
 Isso mexe tanto comigo que começo a tentar decifrar o que as pessoas estão ouvindo, apenas observando seus gestos e maneiras. Eis que me aparece um senhor com roupas despojadas e com um rádio de pilha que tocava “me dá um olá, me manda um oi...cê sabe onde eu estou liga pra mim”.
      Desço do ônibus, mas meu trajeto não termina ali, pego um trem e continuo nessa brincadeira. Olho para o lado e vejo pessoas extremamente animadas, ao som de "Hello, hello, baby; You called, I can't hear a thing". Isso é tão atual, né? Opa, outra questão: o que os nossos pais ouviam? Vão ai alguns chutes, que só mais tarde vou confirmar. “Você viu um moreno, alto, bonito e sensual? Talvez ele seja a solução dos seus problemas, o endereço pra comunicação, pra caixa postal do amante profissional”. E não para por aí, “Aonde está você? Me telefona. Me chama! Me chama! Me chamaaaa!”, e mais “Pelo rádio da polícia ela manda o seu recado. Alô, polícia?”, talvez fosse isso o que os nossos pais ouviam na década de 80.
        Volto desse pensamento e olho para todos os lados. Cada pessoa me lembra um ritmo, uma letra diferente. Avisto uma jovem com ar apaixonado que gesticula “Teus sinais me confundem da cabeça aos pés...”.
           Saio do trem e me dirijo para a agência, mas não paro de observar os outros ao meu redor. Atravesso a rua, chego no prédio, entro no elevador e começo a ler as notícias que passavam na tela, logo me vem à cabeça “Não tenho paciência pra televisão. Eu não sou audiência para a solidão. Eu sou de ninguém, eu sou de todo mundo e todo mundo me quer bem”.
            Entro no escritório, comprimento os meus colegas e então percebo que todos me olham de uma forma diferente. Em cima da minha mesa havia um recado de um novo "job" e surge uma voz na minha cabeça que dizia “Criar meu website, fazer minha home-page, com quantos gigabytes ...”.
 Começo a trabalhar, abro os portais e de repente sou arrancada dos meus pensamentos que flutuavam por “vejo o programa que não me satisfaz, leio o jornal que é de ontem, porque para mim tanto faz” com a música que vinha do computador ao lado “Ela não anda, ela desfila! Ela é top, capa de revista, ela é mais mais, ela abusa no look tira foto do espelho para botar no Facebook”. É nessa hora que peço encarecidamente para usarmos nossos fones de ouvido.
E por hoje chega, mas me lembro de “Era vida em preto e branco, quase nunca colorida reprisando coisas que não fiz, finalmente se acabando feito longa, feito curta que termina com final feliz”.



Carol Zanola é assistente de arte. Tem formação superior em Produção Multimídia. Apaixonou-se logo cedo pelo cheirinho de jornais e revistas e nunca dispensa um belo café. Estudante da Oficina de Teatro 2013, do grupo A Ordem do Caos.

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