20/06/2011

Reflexões sobre a poesia de Brecht

Por Rafael Frade


Perguntas de um trabalhador que lê

Quem construiu a Tebas de sete portas?
                                         Nos livros estão os nomes de reis.
Arrastaram eles os blocos de pedras?
E a Babilônia várias vezes destruída. 
Quem a reconstruiu tantas vezes? 
Em que casas Da lima dourada moravam os construtores? 
Para onde foram os pedreiros, na noite em que a muralha de China ficou pronta?
A grande Roma está cheia de arcos de triunfo. 
Quem os ergueu?
 Sobre quem Triunfaram os Césares?
 A decantada Bizâncio Tinha somente palácios para seus habitantes?
Mesmo na lendária Atlântida Os que se afogavam gritavam por seus escravos
Na noite em que o mar a tragou. 
O jovem Alexandre conquistou a Índia. 
Sozinho?
César bateu os gauleses. 
Não levava sequer um cozinheiro?
Filipe da Espanha chorou, quando sua Armada Naufragou.
 Ninguém mais chorou? 
Frederico ll venceu a Guerra dos Sete Anos.
Quem venceu além dele?
Cada página uma vitória.
Quem cozinhava o banquete?
A cada dez anos um grande homem.
Quem pagava a conta? 
Tantas histórias. 
Tantas questões.

Os poemas de Bertold Brecht têm encantado gerações por sua mordaz crítica. Por isso, ao menos um deles faz-se merecedor de espaço nesse blog.

O poema acima reflete uma inquietude de Brecht quanto ao mérito dos fatos históricos. É um tanto nítido que suas indagações se destinam aos que conferem aos grandes nomes a glória por realizações de fato coletivas. A cada verso, o autor nos mostra um exemplo de um nome que ganhou fama pela realização e uma interrogação, fazendo-nos raciocinar sobre quem realmente agiu para que a história pudesse ser escrita.
                                                                                                                           
O interessante do poema é que ele continua vivo e significativo, podendo ter sua mensagem aplicada ao atual modo como a história é contada. Para isso, contamos com um famoso exemplo.

 “Getúlio Vargas, o pai dos pobres”, frase célebre dita na década de trinta. Vargas ganhou essa denominação por ter concedido uma série de direitos aos trabalhadores como férias, salário mínimo e aposentadoria. Contudo, o ex-presidente não concedeu os direitos aos trabalhadores: eles o conquistaram através de uma série de protestos e greves na época dos anarcossindicatos.

O mais impressionante é que a história ainda é contada dessa forma. Ainda é possível ouvir que a Princesa Isabel aboliu a escravidão no país, quando seu fim foi ocasionado por uma série de pressões internacionais e alterações na conjuntura econômica nacional. O intuito de tal versão dos fatos é tirar a ideia de que o cidadão comum, estudantes e trabalhadores, têm o poder de mudança.

Talvez o poema possa deixar uma mensagem aos cidadãos ditos comuns, apontando-os como os responsáveis pelo que aconteceu. Agindo ou observando, eles fazem história.


Um pouco sobre Brecht



Brecht foi um grande teatrólogo, dramaturgo e poeta alemão que viveu durante a primeira metade do século XX(1898 - 1956). No campo literário, produziu contundentes críticas aos problemas sociais que via, à forma como as relações humanas desenvolviam-se, críticas à guerra, à vida na cidade e à Alemanha nazista, a qual teve de deixar devido ao que escrevia. Seus poemas são verdadeiras aulas de história, pinturas da sociedade.

Caso alguém queira adentrar ao mundo literário de Brecht, há um excelente artigo de Leandro Konder publicado pelo IEA-USP (www.iea.usp.br/artigos/konderbrecht.pdf) de onde algumas informações deste artigo foram tiradas.

Um comentário:

  1. Rafael.Muito interessante a menção do poema e o link com GV. Gostei, mas acho que na parte um pouco sobre Brecht poderia ser um pouquinho mais. hehe

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