02/05/2014

Me fotografe mais pela retina dos seus olhos lindos!

Por Carol Zanola

"A partir desse momento, a sociedade imunda se lança, como um único Narciso, à contemplação de sua imagem trivial sobre o metal. Uma loucura, um fanatismo extraordi­nário se apodera de todos esses adoradores do sol. Estranhas aberrações se produzem”.
(Charles Pierre Baudelaire)


Calma Baudelaire! Tudo podia piorar e piorou. A preocupação do poeta francês era com a essência e reprodução da obra. Já a minha é com o excesso de informações e imagens que vemos todos os dias, pois tudo é motivo para um #foto, um #compartilhamento, uma # hashtag. Como o poeta, a maioria de nós se rendeu a arte de fotografar, mas será que tudo deve ser eternizado em um frame? Será que estamos nos esquecendo de viver o momento e apenas tirando mais uma foto?

Em 2013, a palavra "selfie" virou uma febre entre os usuários de redes sociais e acabou entrando para o renomado Dicionário de Oxford. A palavra se originou do termo "self-portrait", que significa autorretrato, daí surgiu o neologismo: selfie. A inserção no dicionário inglês ocorreu pelo aumento da utilização do termo em quase 17.000% só no último ano. Segundo o professor de psicologia da Universidade da Califórnia, Larry Rosen "Selfie é uma nova maneira de expressão. Doses excessivas, contudo, podem ser nocivas a seus praticantes".
  
Uma simples coincidência foi o estopim de toda esta revolva. Fui a uma peça e algumas pessoas não abaixavam seus celulares e câmeras. Isso foi me incomodando, pois eu perdi diversos momentos por conta de um flash ou de um "barulho de click". Continuei com esse incomodo em outros eventos que eu fui no decorrer dos dias e acabei me deparando com o texto de Baudelaire, que inflamou ainda mais o que eu estava sentindo. Sou uma amante da fotografia como forma de arte e acho que alguns de nossos momentos devem ser retratados, mas nada de acessos.
  
Será que necessitamos mostrar ao mundo onde estamos? O que fazemos? Qual o valor dessa imagem? E os outros ao meu redor? A única certeza que tenho é que a última pergunta nem passa pela cabeça de alguns. Observe os detalhes. Veja o invisível.

“A câmera não faz diferença nenhuma. Todas elas gravam o que você está vendo.
Mas você precisa VER”
(Ernst Haas, fotógrafo austríaco e um dos fundadores da famosa agência Magnum).


“EXCESSO DE IMAGENS E DE REGISTROS”Neste vídeo, o fotógrafo português, Alfredo Cunha, diz que há uma preocupação excessiva em “registrar a vida”.


Fontes:

*Título com referência à música "Disritmia"- Martinho da Vila -
*Fonte da imagem: banco de dados Shutterstock





Carol Zanola é Assistente de Arte. Tem formação superior em Produção Multimídia. Apaixonou-se logo cedo pelo cheirinho de jornais e revistas e nunca dispensa um belo café. Estudante da Oficina de Teatro do grupo A Ordem do Caos.

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