Por Carol Zanola
"A partir desse momento, a sociedade
imunda se lança, como um único Narciso, à contemplação de sua imagem trivial
sobre o metal. Uma loucura, um fanatismo extraordinário se apodera de todos
esses adoradores do sol. Estranhas aberrações se produzem”.
(Charles Pierre Baudelaire)
Calma Baudelaire! Tudo podia piorar e
piorou. A preocupação do poeta francês era com a essência e reprodução da obra.
Já a minha é com o excesso de informações e imagens que vemos todos os dias,
pois tudo é motivo para um #foto, um #compartilhamento, uma # hashtag. Como o
poeta, a maioria de nós se rendeu a arte de fotografar, mas será que tudo deve
ser eternizado em um frame? Será que estamos nos esquecendo de viver o momento
e apenas tirando mais uma foto?
Em 2013, a palavra "selfie"
virou uma febre entre os usuários de redes sociais e acabou entrando para o
renomado Dicionário de Oxford. A palavra se originou do termo
"self-portrait", que significa autorretrato, daí surgiu o neologismo:
selfie. A inserção no dicionário inglês ocorreu pelo aumento da utilização do
termo em quase 17.000% só no último ano. Segundo o professor de psicologia da
Universidade da Califórnia, Larry Rosen "Selfie é uma nova maneira de
expressão. Doses excessivas, contudo, podem ser nocivas a seus praticantes".
Uma simples coincidência foi o estopim de
toda esta revolva. Fui a uma peça e algumas pessoas não abaixavam seus
celulares e câmeras. Isso foi me incomodando, pois eu perdi diversos momentos
por conta de um flash ou de um "barulho de click". Continuei com esse
incomodo em outros eventos que eu fui no decorrer dos dias e acabei me
deparando com o texto de Baudelaire, que inflamou ainda mais o que eu estava
sentindo. Sou uma amante da fotografia como forma de arte e acho que alguns de
nossos momentos devem ser retratados, mas nada de acessos.
Será que necessitamos mostrar ao mundo
onde estamos? O que fazemos? Qual o valor dessa imagem? E os outros ao meu
redor? A única certeza que tenho é que a última pergunta nem passa pela cabeça
de alguns. Observe os detalhes. Veja o invisível.
“A câmera não faz diferença nenhuma.
Todas elas gravam o que você está vendo.
Mas você precisa VER”
(Ernst Haas, fotógrafo austríaco e um dos
fundadores da famosa agência Magnum).
“EXCESSO DE IMAGENS E DE REGISTROS” - Neste vídeo, o fotógrafo
português, Alfredo Cunha, diz que há uma preocupação excessiva em “registrar a
vida”.
Fontes:
*Título com
referência à música "Disritmia"- Martinho da Vila -
*Fonte da imagem: banco de dados Shutterstock
*Fonte da imagem: banco de dados Shutterstock
Carol Zanola é Assistente de Arte. Tem
formação superior em Produção Multimídia. Apaixonou-se logo cedo pelo cheirinho
de jornais e revistas e nunca dispensa um belo café. Estudante da Oficina de
Teatro do grupo A Ordem do Caos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Qual sua opinião sobre o post? Comente, abra discussões, critique, elogie. O AODC Notícias é o seu espaço.